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Crítica – A lenda de Tarzan – Sem Spoilers
Desde que Tarzan foi criado em 1912 pelo escritor americano Edgar Rice Burroughs para a revista Pulp All-Story muito pouco do que foi dado como característica ao personagem foi mudado. Houveram algumas adaptações apenas colocando o mesmo nos dias atuais, como em muitos de seus filmes mais famosos, sendo que o ator Johnny Weissmuller foi o que mais deu personalidade ao personagem, principalmente com o grito mais conhecido de todos os tempos. A explicação para isso com certeza é o uso dos cenários de época mais caros que os contemporâneos.
A África, na virada do século, era um lugar misterioso de cultura rica e repleta de animais selvagens, muitos deles não conhecidos pelo homem. Era um celeiro de ideias pronto para ser usado pois chamava a atenção do mundo todo. Era o mais próximo, talvez, de viajar para um outro planeta. Afinal você poderia trabalhar desde povos mais avançados tecnologicamente e escondidos no coração da selva até mesmo elos perdidos e animais pré- históricos. Era uma mina de ouro criativa e Edgar Rice Burroughs sabia disso, usando disso quando aventurou-se em outros cenários, como Marte, em a Princesa de Marte, por exemplo.
No entanto, com o passar dos anos a África foi se tornando menos mágica, e a atenção do grande público começou a mudar de foco, indo procurar novas fontes de entretenimento como a ficção científica e o terror.
Com o advento da TV o personagem ainda encontrou casa em séries, muitas vezes de baixo orçamento ou desenhos animados que remetiam o personagem a aventuras muitas vezes esdrúxulas.
Tarzan caiu no ostracismo por muito tempo, até que em 1984 vimos o personagem de uma forma mais humana e poética com o filme Greystoke: The Legend of Tarzan, Lord of the Apes onde o ator Christopher Lambert incorporou o personagem. Nesta versão que foi muito bem vista pela crítica da época, mas não tão querida pelos fãs mais afincos do personagem, vemos a história do retorno de Tarzan ao seu verdadeiro lar sendo recebido por seu único parente vivo. Lá é apresentado ao seu nome John Clayton III, Lorde Greystoke. O ponto alto do filme é a adaptação de Tarzan em um mundo que não conhecia e de como a selva exercia uma força sobre ele. Apesar do retorno do personagem à linha de tempo original, criada por Burroughs e da atuação excelente de Lambert, Tarzan só teve seu sucesso recuperado com a animação da Disney em 1999, rendendo uma série animada. Após mais algumas tentativas o personagem reaparece nesta nova versão.
A lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan) mostra uma mistura muito bem feita entre os filmes de 1984 e a animação da Disney. Aqui vemos o personagem já vivendo em suas propriedades e reconhecido como o senhor de muitas terras e recursos. Já vive com sua amada eterna Jane e as famosas referências como “Eu Tarzan… Você Jane.” são usadas como citações à histórias escritas sobre a saga do personagem. Uma forma bonita de levar seu criador ao título de personagem, como um importante biógrafo de ficção de sua própria criação. David Yates, conhecido como o diretor dos últimos filmes da saga Harry Potter, faz uma obra de excelência trabalhando com um roteiro muito simples, porém pontual. Aqui vemos o Tarzan das antigas sagas literárias e traz para todos no cinema a mágica da África novamente com uma fotografia deslumbrante.
Na pele do homem macaco agora temos Alexander Skarsgård, bem conhecido pela série True Blood, que desempenha de forma satisfatória o personagem. Entretanto, falta ainda para ele a simpatia tosca do personagem a qual Lambert fez muito bem, porém sem que seja algo a se preocupar, pois ele compensa isso em cenas de ação. Por sinal ótimas cenas, que apesar da grandiosidade ainda respeita certas lógicas que pareceram exageradas nos primeiros trailers. No papel de Jane vemos a linda Margot Robbie, que se destacou subitamente por seu papel num filme que ainda nem estreou [Arlequina Esquadrão Suicida (2016)]. Apesar de Jane ter sido sempre retratada como um mulher à frente de seu tempo, Margot consegue dá uma pureza e simpatia em sua atuação que encanta muito e até ajuda e respeitar sua veia artística. Já que em Esquadrão Suicida ela viverá alguém muito diferente. A química entre os dois atores é bastante forte. Os olhares apaixonados são tão verdadeiros que você compra o casal com tranquilidade.
Fazendo o papel de alivio cômico temos Samuel “está em todas” Jackson que faz um ex soldado da guerra civil americana que, supostamente, investiga fatos políticos no Congo. Confesso que o personagem acabou se destacando por conta de Jackson, no entanto sua relevância em muitas das cenas pareceu forçada e na minha opinião ele não estando nelas até ajudaria o filme a se desenrolar melhor. Apesar da competência de Jackson seu personagem acabou sendo um dos pontos negativos no filme por mostrar algo meio sem nexo histórico. Contudo, suas caras e bocas acabam rendendo vários sorrisos dos lábios do público.
Além, como eu já disse, do fato de trazer uma certa glória à África, o diretor optou por escolher figurantes em ótima forma física para representar o povo africano. Isso é positivo pois no passado a imagem de fracos, magros e estúpidos era normalmente dada a eles. Ponto super positivo à David Yates e aos roteiristas Adam Cozad e Craig Brewer.
No papel de vilão temos Christoph Waltz com seu eterno ar de soberba que já vimos em 007 –Spectre (2015) e em Bastardos Inglórios (2009). O que, apesar de ser muito bom, não traz nada de novo. Neste ponto mostrou ser apenas um vilão aos moldes de filmes como do Indianas Jones, por exemplo. Acredito até que a presença de Waltz sublimou um pouco a participação de Djimon Hounsou, como um líder de uma tribo que corre atrás de vingança contra Tarzan. O personagem carrega uma bagagem emocional tremenda em suas poucas cenas que mesmo sendo bem menores que as de Waltz acabam, na minha opinião, sendo muito mais relevantes e de respeito.
Apesar de ser uma narrativa que começa direto ao ponto, não deixa de ser também um filme de origem, afinal, muitos da nova geração não conhecem a fundo a história de Tarzan. Logo, a direção achou uma forma bacana de fazer isso com belos e pontuais flashbacks.
Quanto aos efeitos especiais não tenho ressalva alguma. Estão magníficos. Destaco, por exemplo, as cenas dos passeios frenéticos de Tarzan nos cipós. Finalmente alguém usou desta artimanha em um filme do herói das Selvas.
A Lenda de Tarzan não fica devendo em nada no fator entretenimento e aconselho a todos darem uma olhada. Não trata-se, porém, de nenhuma obra prima, pois apresenta falhas significantes no roteiro e, em alguns momentos de continuidade, mas nada que tire seu foco do filme. Para os fãs do homem macaco eu digo veemente que tudo está lá. Das conversas com os animais ao grito que se tornou marca registrada de nosso querido Tarzan.
Minha nota é um bom 8 e digo: vale cada centavo gasto na entrada.
Recomendo.
Nome: A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan)
Direção: David Yates
Baseado na obra de Edgar Rice Burroughs
Gênero: Ação, Aventura, Drama
País: Estados Unidos
Ano: 2016
Duração: 110 minutos
Classificação: Livre.
Sinopse
Releitura da clássica lenda de Tarzan, na qual um pequeno garoto órfão é criado na selva, e mais tarde tenta se adaptar à vida entre os humanos. Passaram-se anos desde que o homem antes conhecido como Tarzan (Alexander Skarsgård) deixou as selvas de África para trás para uma vida sofisticada como John Clayton III, Lorde Greystoke, com sua amada esposa Jane (Margot Robbie) ao seu lado. Agora, ele foi convidado para voltar ao Congo para servir como um emissário de comércio do Parlamento, sem saber que ele é, na verdade, um peão em uma convergência mortal de ganância e vingança, organizado pelo belga Capitão Leon Rom (Christoph Waltz). Mas aqueles por trás da trama assassina não tem ideia do que estão prestes a desencadear.
O Regresso [Crítica]
Esta semana tive o prazer de ver a visão do diretor Alejandro González Iñárritu do livro “O Regresso” do escritor Michael Punke, escrito em 2002. Apesar da mídia como um geral estar passeando em informações e críticas mais a respeito do ator Leonardo Dicaprio, eu resolvi ver mais sobre a obra em si e mais especificamente do personagem central da historia Hugh Glass, que para a satisfação de muitos que gostaram do livro, ele realmente existiu e viveu entre 1783 e 1833. Sua história já foi contada e recontada diversas vezes sendo a mais conhecida o poema “The Song of Hugh Glass” de 1915.
O livro de Punke tem uma foco mais preso à realidade de Glass, no entanto ele próprio diz ter colocado “algo a mais” na aventura para deixar a mesma mais atraente, uma vez que ataques de índios não era algo constante na época dele, pois Glass vivia entre tribos amigas e raramente enfrentava problemas relacionado a conflitos por território ou caça. Vale lembrar que estamos falando de um Estados Unidos de do início do século XIX e caça e terra eram bem abundantes.
De verdade temos um homem que largou a vida, dita na época, “civilizada” para viver entre selvagens e contratado diversas vezes por aqueles que queriam explorar um território não explorado em busca de Pele. É neste ponto que a história começa no filme. A busca eterna de lucro. (O que não vem a ser nenhuma novidade em filmes com o pé na história humana)
O Hugh Glass de Leonardo Dicaprio é um homem que vive atormentado por velhos fantasmas e consequências de escolhas que tomou. Mantém o pé na realidade quase que unicamente pela presença de seu filho mestiço “Águia”, que é a única família que ainda lhe resta.
Não fazendo nenhum spoiler, que uma característica da critica do Nerdossauros, o filme tem uma das mais lindas fotografias que já vi até hoje, pois foi totalmente filmado em luz natural, sendo possível somente algumas horas de filmagem por dia, e em um frio terrível. A atuação de Dicaprio e de Tom Hardy estão fenomenais unidos a uma direção impecável, cenários de uma beleza tão grande que faz você querer muito conhecer este lado do Canadá, onde o filme foi rodado. Temos também algumas sequências, como a do urso e de uma avalanche que são micro filmes dentro deste filme.
Porem… Faltou algo muito importante para ser um filme perfeito.
Uma historia.
Não há… Se você colocar o filme em um filtro verá mais daquilo que sagas americanas adoram. A boa e velha vingança já cansativamente mostrada em “Desejo de Matar” e outros da mesma classe.
Por isso senti aquela sensação horrível de ter pagado caro pelo prato de comida.
O livro, pelo contrário, navega pelos pensamentos do protagonista de forma que por alguns momentos o leitor , narrador e personagem são um só. E isso é muito bom.
Mas a pergunta é se vale pagar o ingresso e ver Dicaprio? Sim… vale… E digo mais: acredito que ele leva a estatueta este ano, não por falas, mas por uma atuação visceral e de entrega pessoal, pois o ator, conhecido por não comer carne, teve que abrir mão disso em uma cena importante do filme. (Como eu disse … nada de Spoiler ).
Depois de tudo isso, defino o filme como bom e o livro como muito bom.
Aconselho conhecer as duas obras.
O livro aqui no Brasil saiu pela editora Intrínseca e tem um preço médio de R$ 39,00.
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Nome: O Regresso (The Revenant)
Diretor: Alejandro González Iñárritu
Baseado na obra de Michael Punke
Gênero: Aventura, Drama, Thriller
País: Estados Unidos
Ano: 2015
Duração: 156 minutos
Sinopse:
Em uma expedição pelo desconhecido deserto americano, o lendário explorador Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) é brutalmente atacado por um urso e deixado como morto pelos membros de sua própria equipe de caça. Em uma luta para sobreviver, Glass resiste à dor inimaginável, bem como à traição de seu confidente, John Fitzgerald (Tom Hardy). Guiado pela força de vontade e pelo amor de sua família, Glass deve navegar um inverno brutal em uma incessante busca por sobrevivência e redenção.
Por Que Gostar de Ficção Científica? Conceitos Abstratos I – Hipercubo/Tesseract e viagem dimensional
O que mais me impressiona na Ficcção Científica é sua capacidade didática na exposição de conceitos técnicos que, antes de serem popularizados pela Sci-Fi, eram limitados aos entendidos do assunto, ensinando o público a pensar científica e abstratamente. Ano-luz, Anti-matéria, Modelos Atômicos e Relatividade Especial são alguns dos conceitos que costumam aparecer vez ou outra nas obras de Sci-Fi. Agora, contudo, iremos falar sobre algo um pouco menos explicado: O Hipercubo, e seu conceito aplicado a viagens, e vamos mostrar como não é um conceito tão incomum assim, aparecendo em diversas obras.
Obs: Não irei me ater as obras em si, apenas tangenciarei o que diz respeito ao tema. (Pode conter Spoilers)
O Hipercubo
Um Hipercubo, proposto por Howard Hinton em 1888, é um cubo 4D (ou por extensão 5D …), difícil de pensar (não tão difícil de esquematizar) e com repercussões práticas incríveis, que nos abre as possibilidades de manipulação do espaço no campo teórico.
Uma Dobra no Tempo
A primeira vez que eu li sobre esse conceito foi no livro “Uma dobra no tempo” (O primeiro livro da série Viajantes do Tempo) de Madeleine L’Engle, nesse livro de 1962, os protagonistas usam o tempo (a quarta dimensão) para se locomover pelo espaço, por um caminho mais curto. Quem ensina essa técnica para eles são 3 senhoras (Bruxas? Anjos? Time Ladys?): Mrs Whatsit, Mrs Which e Mrs WHO. Bem… esse livro ganhou inúmeros prêmios de literatura infantil e foi sucesso de vendas. (Pouco menos que um ano antes de Doctor who estrear na TV.)
Tomarei, portanto, as palavras desse livro para explicar o que seria o hipercubo. Nesse diálogo temos Meg, a protagonista adolescente do livro, conversando com a Mrs What e Charles Wallace seu irmão de 5 anos, mas um verdadeiro gênio:
“- Basta que me Explique! – suspirou Meg.
– Ok. – Concordou Charles – O que é a primeira Dimensão?
– Bem… Uma Linha.
– Ok. E a segunda?
– Você teria que transformar a linha num quadrado. Um quadrado achatado seria a segunda dimensão.
– E a terceira dimensão?
– Bem, para isso, você teria que transformar o quadrado num cubo. Assim não seria mais um quadrado achatado, mas teria lados, fundo e topo.
– E a quarta?
– Acho que matematicamente, teríamos que levar o quadrado ao quadrado. […] Acho que tem algo a ver com o tempo e Einstein. Acho que podemos chamar a quarta dimensão de tempo.”
A aplicação disso em “viagens” também é abordada no livro:
“Como vocês podem ver – Explicou Mrs Whatsit – Se um inseto muito pequeno fosse se movimentar na parte da saia que está na mão direita da Mrs Who para a parte que está na esquerda, seria uma caminhada muito longa para ele, caso precisasse caminhar diretamente de um lado para o outro.
Rapidamente a Mrs Who, ainda segurando a saia juntou as mãos.
– Agora vocês vêem – Continuou Mrs Whatsit – como ele logo chegaria ao outro lado sem fazer toda essa viagem. É assim que viajamos. (Nós Tesseramos)”
Essa é a explicação mais simples e clássica de dobra espacial, tirada de um livro infantil: Um caminho mais curto tomado por uma dimensão “acima”, no nosso caso teria que ser a quarta.
Doctor Who
Esse também é o conceito que nos é mostrado com a TARDIS, nave que viaja pelo tempo-espaço, na série britânica Doctor Who (Mrs Who… Dr. Who, seria coincidência?).
TARDIS (Tempo e Dimensão Relativas no Espaço) seria, entãoexplicando a diferença de dimensões do lado de fora e de dentro dela. A grosso modo, seria então um Tesseract, ou pelo menos é assim que o Doutor explica a Leela (sua companheira em 1977) o funcionamento da máquina.
Assim sendo, o Doutor também “Tessera” para viajar.
MARVEL
Na saga cinematográfica da Marvel podemos ver um cubo em tom azul TARDIS, ou quase, (Mais coincidência), que guarda uma gema do infinito, chamado Tesseract. Apareceu em Vingadores como fonte de energia usada para abrir um portal dimensional e ajudar um grupo de assalto alienígena a fazer um “caminho mais curto”. Aparentemente 3 dimensões não são o suficiente para segurar e controlar uma gema do infinito, foram necessárias 4 delas, e mesmo assim ainda não foi o suficiente para conter tamanho poder, acontecendo algumas “sobrecargas” no percurso.
Além disso parece dar ao portador a capacidade de “Tesserar” por aí, vide Caveira Vermelha ali em cima.
(Na realidade Marvel não é Ficção científica, mas é uma curiosidade interessante de ser mencionada)
Interstellar
“A Gravidade pode atravessar dimensões, incluindo o tempo”
Em Interestellar (Filme de 2014 dirigido por Nolan) é centrado num tesseract, de modo a abordar a questão mais profundamente. Nesse filme podemos ver a simples explicação da dobra tal como exposto em “Uma dobra no Tempo”, quem faz a explicação é o Dr. Romilly, ao piloto Cooper usando, dessa vez um papel e uma caneta, com um plus, ele nos conta que a dobra espacial é o princípio do buraco de minhoca, esse buraco, que seria em 3 dimensões, já que no papel dimensional seria um furo circular, para nós pareceria uma esfera (assim como do quadrado ao cubo).
A gravidade é uma força gerada através das distorções do tecido da realidade pela matéria (Massa), essas distorções nós não vemos, pois somos 3D, assim como essas pequenas formigas “bidimensionais” que andam sempre em linha reta, em seu plano e nunca notam que ele é curvo, pois não veem em 3D. O buraco de formiga, nesse caso, seria um furo entre a parte de cima e de baixo do anel.
Mas não fica por aí, no início do filme descobrimos que existem distorções gravitacionais na quarto da filha de Cooper, essas distorções são usadas para passar informações para ele, como as coordenadas de uma base aérea. Contudo, quando Cooper passa pelo buraco de minhoca e por muitas aventuras do outro lado, chega, enfim, ao centro de um buraco negro, sim uma enorme distorção gravitacional. E lá, ele entra num Hipercubo legítimo que fica no quarto da própria filha em todo o seu tempo, “repetidas vezes”, segundo a segundo, “quadro a quadro”, como um filme… nesse momento ele percebe que foi ele quem mandou as mensagens para o quarto de sua filha. Bem. Esse Hipercubo, o qual ele adentrou, nada mais é do que, assim como o vórtice do tempo de Doctor Who, uma representação 3D de um universo 4D, onde o tempo parece mais uma dimensão do espaço, e viajar 30 anos pode ser como uma caminhada leve após o almoço. E é assim que Cooper viaja no tempo, e no espaço, por que a gravidade do buraco negro distorceu tanto a realidade que ele “entrou” no quarto da própria filha.
Watchmen
Para finalizar com chave de ouro vamos falar de Watchmen (Quadrinho de 1985 escrito por Allan Moore), mais especificamente do Dr. Manhattan. Ele é um ser humano que sofreu um acidente e como consequência ficou só com a sua gravidade, sim, todas as outras forças de campo que agia em seu corpo foram completamente anuladas… como consequência ele se tornou um ser de 4 dimensões, que após algum tempo e muito esforço, aprendeu a se projetar em nossas 3 dimensões. Isso deu a ele a capacidade, por exemplo, de ver o tempo como ele de fato é (mais uma dimensão), dando a relativa aparência de clarividência, além disso ele é capaz de teletransportar, ou “tesserar”, e levar com ele quem quiser, é bem da verdade que a desintegração do corpo é um efeito colateral para essa viagem dimensional, mas se reconstruir foi o primeiro truque que ele aprendeu, não foi?
Bem, dessa maneira podemos mostrar como SCi-Fi tem a capacidade de introduzir conceitos abstratos que, se bem observados, podem levar à fácil compreensão de conceitos abstratos. Com essas obras podemos entender melhor, ou estarmos mais próximos de compreender conceitos de Relatividade Geral, que em suma sobre o que se trata esses assuntos: “O universo Curvo de Einstein”.
Nem todo dom é uma bênção … [Revisão de A menina que Tinha Dons]
Há vinte anos o mundo que conhecemos chegou ao fim. Um cataclismo provocado por um fungo parasita dizimou quase toda a humanidade, mas um pequeno grupo ainda luta pela sobrevivência e procura uma cura dentro de uma base militar.
Ali, vive Melanie. Uma menina de 10 anos, com uma pele de princesa de contos de fadas; “branca” como a neve. Ela adora a escola, especialmente as aulas da Srta. Justineau. Vive confinada em uma cela e sua rotina é rígida e metódica. Todas as manhãs é amarrada a uma cadeira e levada para a sala de aula.
Mas Melanie sonha com o dia em que a cura seja encontrada e ela possa ver com os próprios olhos o que tem do lado de fora.
Ela não entende porque os militares e professores olham as crianças com desconfiança. Menos a Srta. Justineau, que é atenciosa e divertida. Mas Melanie não questiona o modo como é tratada, pois sempre foi assim, então deve ser normal.
Para os professores e pesquisadores da base, Melanie é única. Sua sede por conhecimento e curiosidade em descobrir os mistérios do mundo que a rodeia, faz dela uma menina especial.
Ela ainda não sabia, mas seu desejo estava prestes a se concretizar. Melanie descobriria que a verdade não era nada acolhedora… Reinado pela selvageria, o mundo externo só tinha a oferecer dor e morte.
A Menina Que Tinha Dons é o romance de estreia do britânico M. R. Carey, aclamado roteirista de HQ’s de sucesso – incluindo trabalhos como X-men, Quarteto Fantástico e Hellblazer – e que escreve para as duas maiores editoras de quadrinhos, Marvel e Dc comics.
Em sua primeira obra literária, Carey surpreende com uma história de horror que flerta com a distopia. Um thriller intrigante, cuja originalidade em um tema já saturado foi algo motivador.
Para os que pretendem ler o livro, dou-lhes um conselho: evitem ler resenhas que revelem demais. O interessante é o leitor ir descobrindo aos poucos os meandros da trama, bem como os porquês das ações e comportamentos dos personagens.
O tema em que a história se baseia não é inovador, porém me surpreendi com as causas que sustentam a história. Num mundo pós-apocalíptico, onde os seres humanos foram quase dizimados por uma pandemia, a origem da patologia apresentada pelo autor é bem criativa. Claro, que também não é algo inexplorado, o mesmo patógeno (cordyceps) e cenário similar já foram usados como tema em um Game, entretanto a abordagem é diferente.
Aqui, o cerne do enredo gira em torno das emoções humanas, da capacidade de amar algo diferente de você e o companheirismo em um ambiente hostil. As alterações físicas, neurológicas e comportamentais dos infectados também é importante, mas vamos descobrindo todos os detalhes no transcorrer da leitura. Então, segurem a curiosidade e não procurem saber demais sobre o livro. Tarefa quase impossível, eu sei. rsrs
Nossa protagonista, Melanie, é uma garota que transmite inocência. Apesar de ter uma inteligência impar, de ser um gênio, ela ignora os fatos que lhe são apresentados todos os dias. As respostas para suas dúvidas e anseios estão todas disponíveis, basta ligar os pontos, porém Melanie é tão pura que não consegue assimilar a realidade.
Essa falta de malícia é o que torna Melanie uma criança adorável. Mesmo sabendo que a garota é uma “caixa de Pandora”, o leitor se apega a ela.
Aliás, vale salientar que o título do livro faz referencia à mitologia de Pandora, ou seja, sob uma aparente inocência ou beleza, reside na verdade uma fonte de calamidades… “Pandora, aquela que possui todos os dons”.
Apesar do livro ser ágil e envolvente, faltou um pouco mais de páginas. rsrs Eu queria saber mais, entender o que estava acontecendo no mundo, como a humanidade em geral estava lidando com a doença, etc… O livro nos dá apenas a perspectiva de Melanie e de quem está a seu redor.
O desfecho me surpreendeu, não por ser inusitado, mas porque eu esperava algo diferente. O final é plausível e faz todo sentido, mas confesso que fiquei abatida com resolução da trama.
Enfim, para quem curte distopia e thrillers de horror, A Menina que Tinha Dons é leitura obrigatória.
Vale muito a pena!
Porquê gostar Ficção Científica – Introdução: o que é?
Desde criança eu vejo meu pai assistindo filmes de ficção científica (Sci-Fi) e admito, sempre tive medo do gênero. Os filmes de Sci-Fi tem a tendência de serem esquisitos, bizarros e um pouco repulsivos: Monstros assustadoramente mal feitos, coisas malucas e histórias que ninguém entende costumam ser suas marcas registradas. Provavelmente por isso que Sci-Fi é visto pela maioria como um gênero “não sério”, como se fosse algo sem sentido ou totalmente fora da realidade e, pejorativamente, coisa de Nerd.
Mas isso não é verdade.
Ao crescer, e entender o que significa Ficção Científica, percebi que muitos de seus espécimes são bem mais pé no chão e realistas do que Biografias, Dramas e muitos dos gêneros “sérios”. Percebi isso quando constatei que poucos sabem o que é realmente uma ficção científica. Qualquer obra quer se passa no espaço, no futuro ou tem alienígenas, ou qualquer coisa parecida costumam ser consideradas Sci-Fi. Percebi essa classificação esdrúxula ao ver na capa de “2012”: “Ficção Científica”. E o mesmo para “King Kong” e “Godzilla”. Convenhamos esses filmes apesar de serem bem fictícios não são nada científicos, nem pseudocientíficos, nem mesmo folclóricos. Notamos, notamos portanto que o nome Ficção “CIENTÍFICA” não se aplica a esses casos. Então o que seria uma “ficção Científica”?
Se você pesquisar “Definição Ficção Científica” no Google esse drama que eu relatei será bem colocado por: “Termo mal compreendido”.
Contudo o nome já diz tudo. Trata-se de uma narrativa, uma ficção, que tem como foco a ciência, real ou extrapolada (mantendo-se a plausibilidade) e suas repercussões práticas seja na sociedade seja nos indivíduos. Participam necessariamente da ficção científica (para se manter o foco na ciência) a abordagem de definições científicas ou epistemológicas, seja por exemplificação ou uso prático. Por exemplo, Planeta dos Macacos (1968), onde a teoria da relatividade é abordada de forma prática ao se mostrar uma nave superveloz, quase na velocidade da luz, cuja tripulação criogenicamente paciente aguarda a nave chegar ao seu destino, contudo, um erro de programação fez com que eles viajassem por mais tempo do que deveriam, indo 3000 anos no futuro, sem precisar gastar 3000 anos na viagem.
Ainda em Planeta dos macacos vemos outro modo de se marcar a Sci-Fi a explicação da ciência em si e de seu processo. Ao se deparar com os macacos super desenvolvidos os astronautas batem um papo com os cientistas macacos, que afirmam que é “cientificamente impossível” um objeto mais pesado que o ar planar, a teoria do símio foi posta a prova por meio de um aviãozinho de papel.
Usando ainda essa alegoria podemos dizer que o que o ser humano considera impossível hoje pode não o ser amanhã, e que aviõezinhos de papel, assim como a ficção científica, nos dão uma dica de que é possível realizar algo… mesmo que pareça bobo ou fantasioso, não é.
Um exemplo disso é a utilização da ficção científica para explicar conceitos de uma forma melhor que o blábláblá chato das “coisas sérias”.
No Capítulo 7 da Obra “A República” de Platão o filósofo se utiliza claramente de uma ficção científica. A Alegoria da caverna, como é conhecida, é uma narrativa onde o protagonista descobre-se dentro de uma caverna escura, acorrentado, junto com o resto da humanidade, que sempre viveu lá enxergando o que havia fora da caverna apenas pela sombra que o exterior projetava, mas percebe que pode facilmente se livrar das correntes e sair da caverna, coisa que humano algum jamais fez. Ao sair seus olhos doem, ele pensa em voltar a caverna, mas com o tempo ele se acostuma com a claridade. Fora da caverna ele percebe que as coisas são bem diferentes que suas projeções na caverna. Volta animado para a caverna e conta o que viu. Julgando o homem por louco, o restante dos homens que lá haviam resolvem matar o subversivo.
Essa ficção é científica pelo simples fato de mostrar a ciência como ela é socialmente, o que vc acha que aconteceria com esse macaco aí em cima contasse para os seus colegas que a verdade deles está errada?; e para o indivíduo, essa cara de bobo do macaco ao se encontrar com a verdade não poderia ser um desconforto nos olhos por ter visto a luz fora da caverna?
A mesma alegoria platônica sofreu diversas releituras em filmes de Sci-Fi a mais conhecida delas é MATRIX. Onde o protagonista neo resolve sair da caverna tomando a pílula certa, e igual ao original, reclama de dor nos olhos. “É por que você nunca os usou” responderia Morfeu.
Podemos notar que a verdadeira ficção científica, além de expor a ciência e a técnica abordará basicamente filosofia, sendo essa a mãe da ciência, não poderia ficar de fora, e de fato, não fica.