Arquivo da categoria: Séries

Informe SoNerd #10

Stranger Things- Crítica sem spoilers

Assim como um fotógrafo encontra nos minutos antes do pôr do Sol a sua hora perfeita para uma excelente fotografia, os irmãos Matt e Ross Duffer encontram no ambiente do início dos anos oitenta o momento no tempo perfeito para apresentar ao público a série da Netflix: Strange Things ( Coisas Estranhas).

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Claramente numa demonstração de carinho ao trabalho desenvolvido por cineastas como George Lucas, Steven Spielberg, John Carpenter, Joe Dante e tantos outros que fizeram nome e marcaram uma geração, os irmãos Duffer se arriscaram ao inovar com o velhoaclose4Digo isso, pois, tendo vivido minha infância nesta época, o gosto da saudade que tomou conta de mim e cada episódio foi como um deleite e alimento àquela criança interna que se maravilhava com filmes como Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind – 1977), ET (1982) e Guerra nas Estrelas (Star Wars – 1977) e morreu de medo vendo o Enigma do Outro Mundo (The Thing – 1982). No entanto como Strange Things tocou outras gerações que não conseguem desconectar de seus multi-aparelhos foi o que mais me surpreendeu. Afinal, entender um mundo sem a internet e um simples telefone celular mostra o quanto a perspicácia e extintos humanos eram importantes e, talvez, o quanto ficamos preguiçosos, por assim dizer.strangerthings03-590x394

Strange Things vem como uma cápsula do tempo que foi enterrada há décadas e chamou a atenção de todos à sua volta com tamanho interesse, creio eu, que nem mesmo seus criadores imaginaram o quanto seria bem recebida.

Quando vi os primeiros trailers, confesso ter pensado nesses personagens como efêmeros, uma semples base para um possível salto no tempo e explora-los no hoje, tal qual em outras séries e filmes. Mas ao ver o primeiro episódio ficou claro para mim que os irmãos Duffer, na realidade, foram buscar na década de oitenta algo que seus personagens infantis não conseguiriam mais encontrar atualmente: A inocência.

IMG_0255Sim. Como professor, há mais de vinte anos na educação infantil, posso afirmar categoricamente que as diversas fontes de informação que abrilhantam as mentes de nossos jovens também lhe dão acesso ao fim desta inocência que era uma característica básica dos jovens entre 4 e 14 anos nos anos 80, que passava por acreditar em Papai Noel, cegonha, fadas do Dente, Bicho Papão a amigos imaginários.

Os criadores e roteiristas teriam que mudar tanto seu plot para adaptar a proposta nos dias de hoje, que provavelmente teríamos uma outra coisa… Uma coisa estranha, por assim dizer. Logo podemos, sem receio nenhum, dizer que o tempo é um dos personagens principal na história e quem sem ele tudo iria mudar.

Super-8-New-Movie-POsterEm 2011 J.J. Abrams chegou com o filme Super 8, que não foge a esta mesma premissa. Ele encontrou a inocência que abrilhantou todo o enredo, de maneira a fazer o espectador de ontem, e de hoje, comprar a proposta. No entanto, diferente de Super 8, Stranger Things fez um mergulho ainda mais profundo no tempo, pois, com exceção da tecnologia das novas câmeras digitais utilizadas nas gravações, todo o resto foi buscado entre os finais dos anos 70 e início de 80 como os cenários, veículos, trilha sonora, estilo de abertura e fontes usadas, apelando até para os pequenos pontos de estáticas que apareciam nas cenas totalmente escuras nas velhas TVs e, claro, no seu elenco.stranger-things

O elenco foi peça fundamental nisso tudo. Fico imaginando o tempo que levaram para montar toda a equipe. Pois cada um, sem exceção alguma, parece que foi buscado pela máquina do tempo de “De Volta para o Futuro” para compor o casting da série.

O quinteto infantil formado pelos personagens Mike Wheeler, Dustin Henderson, Lucas Sinclair, Will Byers e Eleven resgata de forma clara a infância de vários coroas como eu, por exemplo, que curtiram suas bikes e jogos de RPG e não tinham milhares de amigos em redes sociais, porém carregam as amizades, poucas na época, firmes até os dias de hoje. Esta amizade que podemos ver na série encanta a todos. O destaque na atuação cabe a personagem Eleven (ou Onze, como ficou na versão dublada) interpretada pela jovem atriz Millie Bobby Brown, que mostra na sua personagem a fronteira entre o super poder e a fragilidade de forma brilhante. Esta garota foi apresentada ao grande público na série The Intrudes de 2015, que, por algum motivo triste, só durou uma temporada, mas que foi o suficiente para provar aos produtores que ela poderia fazer a personagem, a qual o título da série faz referência. A química dela com os demais garotos foi primordial e por ter falas curtas por razões da personagem, utilizou de expressões faciais para passar o sentimento da personagem em várias cenas, e olha que sem o advento de seus cabelos. O que na minha opinião foi um tapa na cara de muitos outros artistas adultos. tipo nossa querida Kristen Stewart da série de filmes Crepúsculo.

          stranger-things-1.01_r  Entre os adolescentes, somos apresentados a um pseudo triângulo amoroso vividos por Nancy Wheeler, Jonathan Byers e Steve Harrington respectivamente vividos por Natalia Dyer, Charlie Heaton e Joe Keery que vivem situações bem característica da fase desta idade como o Bullyng e as descobertas sexuais, passando por redescobertas da vida e …  Claro… Enfrentar criaturas abissais.

            No grupo adulto destaque para o retorno avassalador da atriz Winona Ryder com a personagem Joyce Byers. Ela está simplesmente fantástica no papel de uma mãe divorciada da classe média baixa que tem que cuidar de seus dois filhos e enfrentar o desaparecimento do mais jovem. Sua personagem brinca o tempo todo entre a loucura e sanidade durante cada episódio.

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Outro que abrilhanta a série é o xerife Jim Hopper, vivido pelo ator David Harbour mais conhecido por seus papeis secundários em vários filmes. Você provavelmente vai olhar para ele e fazer aquele exercício mental do “Eu conheço ele de algum lugar!” No entanto sua chance de viver um protagonista foi muito satisfatória.

            Finalmente o vilão da saga ficou por conta do cientista  Dr. Martin Brenner vivido pelo grande ator  Matthew Modine, que traz em seu personagem uma mescla que lembra os grandes vilões clássicos banhado pelo suspense dado pela serie Arquivo X.

            StrangerThings_Review_MatthewModine_01E por falar em referência, temos tantas que fica complicado listar. Elas estão em cenas e easter eggs que com certeza farão o público mais jovem correr até as lojas ou sites em busca delas. Afinal oito episódios foi muito pouco e já deixou muitos órfãos de Strange Things .

            Como o Nerdossauros não curte spoilers vou fazer um breve resumos do plot. Mas já digo que o prazer mesmo terá em conhecer os episódios um a um. E que para aqueles que curtem a dublagem vão gostar muito, pois foi feita com maestria.maxresdefault

            Strange Things narra a história de uma cidade tipicamente americana e pacífica que se vê às voltas com uma série de crimes estranhos. No meio de tudo isso temos uma personagem misteriosa. Eleven (Onze), no melhor estilo Akira, mostra que não é, de forma alguma, uma menina comum.

          little-gold-men-stranger-things  Os problemas internos dos personagens também são um brinde à parte na formação da saga. Vão desde casamentos infelizes, passando por preconceitos velados, até traumas não resolvidos.

            Strange Things realmente acabou fazendo algo incrível. Reuniu na sala de minha casa gerações que se apaixonaram por algo de forma absolutamente igual.

            Minha nota não poderia ser menos que um dez e se você ainda não encontrou um motivo para pegar seu cartão de crédito e assinar a Netflix espero que minhas palavras aqui sejam o suficiente para fazê-lo mudar de ideia.

            Não vejo a hora da próxima temporada.

Informe SoNerd #09

Piloto de Preacher – Minhas impressões

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Sempre fui um admirador dos roteiristas de quadrinhos ingleses, em especial um barbudo chamado Alan Moore, porém um rapaz do interior da Irlanda me deixou encucado com sua habilidade de ser violento e ao mesmo tempo poético em suas obras. Muitos o chamaram de louco quando apresentou seus primeiros textos para o selo Vertigo. Em especial uma edição de John Constantine que falava sobre a relação do Reino Unido com a Irlanda. Trabalhar política de forma tão direta na DC não era muito comum no final dos anos 90. Fui atrás de mais coisa deste cara e vi o que ele fez em “Judge Dredd” em um personagem chamado Hitman. Foi o suficiente para coloca-lo na lista de meus escritores de quadrinhos favoritos (detalhe… todos do velho mundo).
Seu nome: Garth Ennis.

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É claro que eu não fui o único a gostar do trabalho deste cara, que após uma formidável temporada escrevendo as melhores historias para John Constantine, HellBlaizer, migrou para uma produção própria ao lado do desenhista, e amigo de longa data, Steve Dillon. A primeira edição de Preacher (Pregador) saía em 1995.

E, claro, me apaixonei na hora. Como demorou um bom tempo para sair em terra brasilis tive que apelar para meus amigos gringos que me mandaram as 15 primeiras edições.

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ATENÇÃO! Contém revelações de premissa de enredo.

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Preacher conta a história de Jesse Custer, um ex-pastor Preacher-TV-Show-Premiere-2016-AMCque foi possuído por uma entidade sobrenatural que lhe confere o poder de fazer com que qualquer pessoa o obedeça. (Ou seja… o poder do VERBO) Essa entidade (chamada Gênesis) é fugitiva do Paraíso e os anjos a procuram para prendê-la novamente. Quando descobrem que ela e Jesse Custer se tornaram um só, o objetivo passa a ser matá-lo. Para isso ressuscitam um matador do século XIX, o Santo dos Assassinos e o enviam em seu encalço.

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O destino faz com que Jesse venha a encontrar sua ex-namorada, Tulipa, e junto dela o personagem mais excêntrico da revista, o vampiro irlandês Cassidy. Ambos passam a acompanhá-lo em sua fuga tanto da polícia quanto do santo.

No fim do primeiro arco de histórias, Custer confronta um dos anjos e extrai dele as informações que lhe faltava para compreender toda a situação, como a origem de Gênesis (o filho mestiço de um anjo e um demônio). Ao perguntar porque o próprio Deus não conserta a situação, o anjo conta que Deus teria desistido da humanidade e abandonado o Céu.

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A partir desse momento, Custer decide o que fazer de sua vida. Ele toma a insólita decisão de procurar por Deus em pessoa e lhe cobrar explicações. Na busca pelo seu objetivo encontra os mais diversos obstáculos: assassinos seriais, a polícia, o próprio santo e organizações secretas como o Graal.

A ideia seria completamente louca, se não fosse a genialidade de Ennis em transformar este thriller de faroeste  em algo surpreendente .

A serie durou de 1995 até 2000 com 66 edições e alguns spin offs .

Preacher

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A partir daqui: Crítica sobre o Piloto da Série.

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Evidentemente foi pensado na ideia de um filme, mas tanto os produtores quanto os criadores acharam uma ideia idiota, ainda mais depois do fracasso do filme de Jonh Costantine na pele de Keanu Reeves de 2005. Afinal trata-se de um personagem com uma bagagem enorme e que nunca poderia ser contada em 2 horas de filme.

No entanto em 2013 foi anunciado que Preacher iria para a telinha pela AMC, que já vinha fazendo um bom trabalho com Walking Dead. O problema foi quem estava por trás do projeto. O ator de comédia Seth Rogen.

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Confesso que fiquei com os dois pés atrás a respeito do que poderia ser feito. Porem um dos pés foi para frente quando foram apresentadas as primeiras imagens dos atores em seus personagens e apesar de mudanças como por exemplo a etnia da personagem Tulipa de uma loira para uma negra∕ latina. O que me deixou realmente feliz foram as primeiras cenas. O visual gráfico e filtros utilizados dando um ar sépia a tudo foi o creme sobre o bolo. Faltava agora ver o piloto. Eu daria esta oportunidade a Seth Rogen, principalmente quando descobri que ele era um fã absurdo da serie em quadrinhos e que sentou várias vezes para tratar do projeto com o próprio criador que aparentemente deu carta branca ao ver os primeiros rascunhos.

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Tive este prazer ontem a noite. A direção foi do próprio Rogen e vou direto ao assunto: Mudaram muitas coisas em relação a primeira edição, como a chegada da entidade Genesis e sobre a família de Jesse, em especial a respeito de seu pai. No entanto foram para a melhor, pois são mídias diferentes e respeitar ao pé da letra o que foi colocado nos quadrinhos poderia ser um tiro no pé. Mas de resto, não tenho nada a dizer. Os atores principais Dominic Cooper, Ruth Negga  e Joe Gilgun realmente encarnaram os respectivos personagens Jesse, Tulipa e Cassidy. Está tudo lá. A forma como os personagens se relacionam, a forma debochada como é tratado assuntos sérios e de tabu, além claro da boa e velha violência muitas vezes exagerada que os quadrinhos mostrava muito bem.

Minha nota não pode ser menos que 10 e indico para todos que curtem os quadrinhos do selo Vertigo ou series e filmes de um terror mais refinado não perderem a oportunidade de conhecer a série.  No entanto aviso aos que tem dogmas religiosos muito firmes, ou não conseguem ter uma mente aberta para este tipo de proposta, evitarem terminantemente assistir. Preacher foi criado para levar você a pensar sobre muitos assuntos, mas Garth Ennis nunca negou que a serie  também foi feita para arrepiar seus cabelos.

Brasília a capital Sci-Fi. [Alvorada em Star Trek]

Quem mora em Brasília, “BsB”, “Capital da Esperança”, “Quadradinho” ou “cidade-parque” (Só Lúcio Costa falava isso… nunca ouvi alguém dizer), ou que tenha, pelo menos, passado por aqui, seja de avião, de carro, de moto, de ônibus ou de nave espacial, deve ter percebido que se trata de uma cidade prá lá de incomum em urbanismo e arquitetura. Fato é que nossa cidade já inspirou muitas obras de Ficção-Científica (Sci-Fi) através do espaço-tempo.

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Por isso nessa semana que nossa cidade faz 56 aninhos preparamos uma série de postagens mostrando como BsB é SCI-FI.
Hoje mostramos o clássico, Star Trek, a série, de 1966, que tomou o Palácio da Alvorada (Residência Oficial do Presidente da República) emprestado do Oscar Niemeyer, o projetista, por duas vezes:

Where No Man Has Gone Before (1966)

Logo no primeiro episódio da Série (Que na realidade é o segundo piloto), Capitão Kirk visita uma colônia de mineração terráquea no planeta Delta Vega. Ao chegarem lá, teletransportados, é claro, podemos ver a fachada do prédio da mineradora, em seu topo o palácio da alvorada, como que coroando a construção.

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Dagger of the Mind (1966)

Ainda na primeira temporada o mesmo prédio, igualzinho, aparece novamente, dessa vez a Enterprise vai a visita de uma colônia penal para criminosos insanos (que não se chama Arkham) no planeta Tantalus V. Vemos então o óbvio, a casa oficial de nossos presidentes, APENAS no universo de Star Trek, é um hospício.

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Outras postagens da Série:

Who’s Doctor Who? [SoNerd #5]

Arquivo X vem para mostrar que o “X” ainda marca o lugar do Tesouro

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Em 1993 fui apresentado a um grupo de amigos que fez com que todos os pensamentos acerca de conspiração alienígena que desenvolvi durante anos, como leitor de livros e quadrinhos de ficção científica, não fosse tempo perdido… mesmo que constantemente ouvisse o contrário por parte de meus pais e de minhas efêmeras namoradas.

 

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Fox e Dana eram os dois lados de uma moeda de ouro muito valiosa. Seguraram durante nove temporadas uma série puramente pelo roteiro e pela Friend Zone eterna entre eles. Gillian Anderson (Dana Scully) mudou regras sobre beleza mostrando uma heroína inteligente, forte e sem apelos sexuais exagerados. Scully era uma ruiva baixinha, gordinha e maravilhosa.

Como era uma outra época, diferente da x_files__6_geração “acho tudo em torrent”, a maioria dos fãs conheceram a dupla com suas vozes brasileiras da VTI, que diga-se de passagem fizeram um ótimo trabalho, tanto que Arquivo X foi a única serie de TV que fiz uma certa questão de ver dublada. Nove anos com altos e baixos, conflitos nos bastidores da serie que fizeram mudanças, algumas estranhas, acontecerem, mesmo com tudo isso, não abalou o carinho e respeitos dos fãs mais fiéis… como eu.

Afinal o que seria feitos dos eternos apaixonados pelos dois agentes do FBI mundo afora?

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Hoje, dia 25 de janeiro de 2016, tive o prazer de ver os dois primeiros episódios da décima temporada, após um hiato de 14 anos. Confesso que estava com medo do que eu iria degustar ali. Afinal cada um seguiu sua carreira de formas até que bem sucedidas e a marca da idade é muito clara… Principalmente com David Duchovny (Fox Mulder). Contudo devo ressalvar que o tempo não passou em nada para Mitch Pileggi o nosso bom Chefe Walter Skinner.

key-art-4-handBem… Ao desligar a TV após os créditos do segundo episódio senti como se tivesse Jantado com amigos, há muito, ausentes. Arquivo X estava lá ainda. Sua identidade, as características de cada personagem, intacta! No entanto, note que não vi algo saudoso e grotesco como já tivemos o desprazer de ver em series e filmes por aí.

Não!

Eles mantiveram as identidades (como a abertura original, por exemplo), mas inovaram também. As histórias estão claramente mais abertas para o novo público, com menos mistério do que é óbvio para a série e a apresentação de temas atuais como a homossexualidade, além uma internet bem mais potente do que há 14 anos. Vemos que a Friend Zone não ficou durante o fim da série e temos a introdução de um novo, e com certeza, importante personagem.

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Devo dizer que para aqueles que choraram com o ultimo episódio em 2002 de forma alguma ficaram tristes com o que nos foi dado pelo senhor Carter nesta nova temporada e que o novo foi muito bem trabalhado tanto no roteiro quanto nos efeitos especiais.

Valeu a pena esperar tanto e que venha mais.

Doctor Who, a Música Clássica e o Rock’n’Roll, e variações [PQ Gostar de SCI-FI?]

Uma das brincadeiras mais manjadas da ficção científica, e que faz muito sentido, é a mudança de valor de elementos da nossa cultura vista do futuro… como assim? Esse ideia vem de perguntas como: Do que os habitantes de Viena no Séc 18 chamavam a música de Mozart? Clássica? Contemporânea?… [Clássico em sentido restrito seria produção artística do período homônimo.]

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Bem, ao menos popularmente, chamamos clássico aquilo que já está arraigado na nossa cultura, que existe há tanto tempo que o mundo não seria o mesmo se aquilo não existisse, algo tão antigo que parece fazer parte de “como o mundo funciona”, e para isso precisa de tempo, e muito desenho do Tom Jerry, para se “solidificar”, mas existem clássicos nesse conceito que, obviamente não é do período clássico, por exemplo, “O poderoso chefão” de F F Coppola, os filmes de C Chaplin e até séries como próprio Doctor Who, que mesmo sem saber que se tornaria um clássico, brincou com o termo 2 vezes:

The Chase

3ª Temporada (1965) – 1º Doutor

Nesse arco podemos ver Vicki (Uma companheira humana do doutor, nascida no século XXV), assistindo uma transmissão antiga de “Top of the pops!” em que os Beatles cantavam “Ticket to Ride”. Animada com a música ela comenta “Não Sabia que teria música clássica aqui”, o que deixa os professores Bárbara e Ian, do séc. XX embasbacados.

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Curiosidade: Essa cena que vemos era para se passar em 1996, e mostrando os Beatles mais velhos, mas o empresário deles à época vetou a ideia, permitindo apenas a retransmissão desse programa que já era da BBC. Outro fato curioso é que o único pedaço de filme que sobrou da transmissão desse programa com os Beatles, que não foi destruída pelo tempo, é a que está na série. Ironicamente, nós do futuro, se quisermos ver essa relíquia do passado só poderemos ver através da TARDIS. (Vídeo abaixo).

 

The End of the World

1ª Temporada (New Who – 2005) – 9º Doutor

 

Já em “O Fim do Mundo”, 5 bilhões de anos no futuro, durante a expansão do sol, podemos ver a última humana Cassandra O’Brian se gabando das relíquias terrestres que ela possui, aí a piada é dupla, ela pede para trazer uma Jukebox, anunciando que os historiadores afirmam ter o nome de Ipod e tocar músicas clássicas dos maiores compositores da humanidade. E começa a tocar “Tainted Love” da banda inglesa Soft Cell.

É cusioso notar como uma brincadeira aparentemente tão insignificante quanto essa nos faz perceber como somos pequenos diante da história e como nossas ideias sobre o passado podem estar erradas. Por isso Sci-Fi é interessante, nos leva a refletir até com suas piadas.

Por Que Gostar de Ficção Científica? Conceitos Abstratos I – Hipercubo/Tesseract e viagem dimensional

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O que mais me impressiona na Ficcção Científica é sua capacidade didática na exposição de conceitos técnicos que, antes de serem popularizados pela Sci-Fi, eram limitados aos entendidos do assunto, ensinando o público a pensar científica e abstratamente. Ano-luz, Anti-matéria, Modelos Atômicos e Relatividade Especial são alguns dos conceitos que costumam aparecer vez ou outra nas obras de Sci-Fi. Agora, contudo, iremos falar sobre algo um pouco menos explicado: O Hipercubo, e seu conceito aplicado a viagens, e vamos mostrar como não é um conceito tão incomum assim, aparecendo em diversas obras.

Obs: Não irei me ater as obras em si, apenas tangenciarei o que diz respeito ao tema. (Pode conter Spoilers)

 O Hipercubo

Um Hipercubo, proposto por Howard Hinton em 1888, é um cubo 4D (ou por extensão 5D …), difícil de pensar (não tão difícil de esquematizar) e com repercussões práticas incríveis, que nos abre as possibilidades de manipulação do espaço no campo teórico.

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Uma Dobra no Tempo

A primeira vez que eu li sobre esse conceito foi no livro “Uma dobra no tempo” (O primeiro livro da série Viajantes do Tempo) de Madeleine L’Engle, nesse livro de 1962, os protagonistas usam o tempo (a quarta dimensão) para se locomover pelo espaço, por um caminho mais curto. Quem ensina essa técnica para eles são 3 senhoras (Bruxas? Anjos? Time Ladys?): Mrs Whatsit, Mrs Which e Mrs WHO. Bem… esse livro ganhou inúmeros prêmios de literatura infantil e foi sucesso de vendas. (Pouco menos que um ano antes de Doctor who estrear na TV.)

Tomarei, portanto, as palavras desse livro para explicar o que seria o hipercubo. Nesse diálogo temos Meg, a protagonista adolescente do livro, conversando com a Mrs What e Charles Wallace seu irmão de 5 anos, mas um verdadeiro gênio:

“- Basta que me E228px-Hipercubo.svgxplique! – suspirou Meg.

– Ok. – Concordou Charles – O que é a primeira Dimensão?

– Bem… Uma Linha.

– Ok. E a segunda?

– Você teria que transformar a linha num quadrado. Um quadrado achatado seria a segunda dimensão.

– E a terceira dimensão?

– Bem, para isso, você teria que transformar o quadrado num cubo. Assim não seria mais um quadrado achatado, mas teria lados, fundo e topo.

– E a quarta?

– Acho que matematicamente, teríamos que levar o quadrado ao quadrado. […] Acho que tem algo a ver com o tempo e Einstein. Acho que podemos chamar a quarta dimensão de tempo.”

A aplicação disso em “viagens” também é abordada no livro:

“Como vocês podem ver – Explicou Mrs Whatsit – Se um inseto muito pequeno fosse se movimentar na parte da saia que está na mão direita da Mrs Who para a parte que está na esquerda, seria uma caminhada muito longa para ele, caso precisasse caminhar diretamente de um lado para o outro.

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Rapidamente a Mrs Who, ainda segurando a saia juntou as mãos.

– Agora vocês vêem – Continuou Mrs Whatsit – como ele logo chegaria ao outro lado sem fazer toda essa viagem. É assim que viajamos. (Nós Tesseramos)”

Essa é a explicação mais simples e clássica de dobra espacial, tirada de um livro infantil: Um caminho mais curto tomado por uma dimensão “acima”, no nosso caso teria que ser a quarta.

Doctor Who

Drwho07-cvrbEsse também é o conceito que nos é mostrado com a TARDIS, nave que viaja pelo tempo-espaço, na série britânica Doctor Who (Mrs Who… Dr. Who, seria coincidência?).

TARDIS (Tempo e Dimensão Relativas no Espaço) seria, entãoexplicando a diferença de dimensões do lado de fora e de dentro dela. A grosso modo, seria então um Tesseract, ou pelo menos é assim que o Doutor explica a Leela (sua companheira em 1977) o funcionamento da máquina.

Assim sendo, o Doutor também “Tessera” para viajar.

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Na saga cinematográfica da Marvel podemos ver um cubo em tom azul TARDIS, ou quase, (Mais coincidência), que guarda uma gema do infinito, chamado Tesseract. Apareceu em Vingadores como fonte de energia usada para abrir um portal dimensional e ajudar um grupo de assalto alienígena a fazer um “caminho mais curto”. Aparentemente 3 dimensões não são o suficiente para segurar e controlar uma gema do infinito, foram necessárias 4 delas, e mesmo assim ainda não foi o suficiente para conter tamanho poder, acontecendo algumas “sobrecargas” no percurso.
Além disso parece dar ao portador a capacidade de “Tesserar” por aí, vide Caveira Vermelha ali em cima.

(Na realidade Marvel não é Ficção científica, mas é uma curiosidade interessante de ser mencionada)

Interstellar

“A Gravidade pode atravessar dimensões, incluindo o tempo”

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Em Interestellar (Filme de 2014 dirigido por Nolan) é centrado num tesseract, de modo a abordar a questão mais profundamente. Nesse filme podemos ver a simples explicação da dobra tal como exposto em “Uma dobra no Tempo”, quem faz a explicação é o Dr. Romilly, ao piloto Cooper usando, dessa vez um papel e uma caneta, com um plus, ele nos conta que a dobra espacial é o princípio do buraco de minhoca, esse buraco, que seria em 3 dimensões, já que no papel dimensional seria um furo circular, para nós pareceria uma esfera (assim como do quadrado ao cubo).

tumblr_mgle5zempq1qaphrco1_500A gravidade é uma força gerada através das distorções do tecido da realidade pela matéria (Massa), essas distorções nós não vemos, pois somos 3D, assim como essas pequenas formigas “bidimensionais” que andam sempre em linha reta, em seu plano e nunca notam que ele é curvo, pois não veem em 3D. O buraco de formiga, nesse caso, seria um furo entre a parte de cima e de baixo do anel.

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Mas não fica por aí, no início do filme descobrimos que existem distorções gravitacionais na quarto da filha de Cooper, essas distorções são usadas para passar informações para ele, como as coordenadas de uma base aérea. Contudo, quando Cooper passa pelo buraco de minhoca e por muitas aventuras do outro interstellar-tesseractlado, chega, enfim, ao centro de um buraco negro, sim uma enorme distorção gravitacional. E lá, ele entra num Hipercubo legítimo que fica no quarto da própria filha em todo o seu tempo, “repetidas vezes”, segundo a segundo, “quadro a quadro”, como um filme… nesse momento ele percebe que foi ele quem mandou as mensagens para o quarto de sua filha. Bem. Esse Hipercubo, o qual ele adentrou, nada mais é do que, assim como o vórtice do tempo de Doctor Who, uma representação 3D de um universo 4D, onde o tempo parece mais uma dimensão do espaço, e viajar 30 anos pode ser como uma caminhada leve após o almoço. E é assim que Cooper viaja no tempo, e no espaço, por que a gravidade do buraco negro distorceu tanto a realidade que ele “entrou” no quarto da própria filha.

Watchmen

Para finalizar com chave de ouro vamos falar de Watchmen (Quadrinho de 1985 escrito por Allan Moore), mais especificamente do Dr. Manhattan. Ele é um ser M 1humano que sofreu um acidente e como consequência ficou só com a sua gravidade, sim, todas as outras forças de campo que agia em seu corpo foram completamente anuladas… como consequência ele se tornou um ser de 4 dimensões, que após algum tempo e muito esforço, aprendeu a se projetar em nossas 3 dimensões. Isso deu a ele a capacidade, por exemplo, de ver o tempo como ele de fato é (mais uma dimensão), dando a relativa aparência de clarividência, além disso ele é capaz de teletransportar, ou “tesserar”, e levar com ele quem quiser, é bem da verdade que a desintegração do corpo é um efeito colateral para essa viagem dimensional, mas se reconstruir foi o primeiro truque que ele aprendeu, não foi?

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Bem, dessa maneira podemos mostrar como SCi-Fi tem a capacidade de introduzir conceitos abstratos que, se bem observados, podem levar à fácil compreensão de conceitos abstratos. Com essas obras podemos entender melhor, ou estarmos mais próximos de compreender conceitos de Relatividade Geral, que em suma sobre o que se trata esses assuntos: “O universo Curvo de Einstein”.